«Somos chamadas a uma profunda vida de fé que nos faz assumir os mesmos critérios de Jesus no nosso modo de sentir, pensar, julgar e agir. O desejo de fazer em tudo o que agrada a Deus nos sustenta na busca humilde e constante de sua vontade…» (C 7)

Este artigo das constituições convida-nos a renovar continuamente a nossa paixão missionaria e encontrar sempre novas formas de anunciar o Evangelho.

Desde o dia 18 de Março 2020, na Guiné-Bissau, estamos em estado de emergência, como no mundo inteiro, a causa da pandemia do corona vírus. Ainda que nos encontrarmos fechadas na nossa comunidade, no respeito das medidas de prevenção, isso não significa que nosso coração e nossa paixão missionaria fique fechada e inativa.

Um dia, conversando a mesa, pensamos a como nos aproximar do nosso povo e viver o nosso desejo de enfrentar juntos este momento de crise e provação para todos. Sentíamos a falta das pessoas que acompanhamos cotidianamente, diria Papa Francisco: “falta das ovelhas”.

O povo guineense, lutador e sofredor, herdeiro dum nobre passado para ter dado os natais ai Pai da Luta de libertação Amilcar Cabral, é um povo que está acostumado a lutar. Esta situação atípica em que caímos, por causa da pandemia, é também uma verdadeira luta para a vida e em favor da sobrevivência. Uma “Luta” que podemos ganhar somente estarmos juntos, com uma visão holística, dizia o nosso querido Papa Francisco em Evangelii Gaudium. Quanto precisamos desta visão ampla da realidade para enfrentar os desafios atuais!

De um lado o bem maior a ser salvaguardado é a vida mas de outro lado não é possível viver sem o alimento de cada dia e, na nossa realidade, as famílias vivem do trabalho do dia a dia. Este é o dilema cotidiano em que o povo continuamente se encontra. Ainda que com mascarinhas e respeitando, na medida do possível, as distancias de segurança, a maioria deles não pude parar de trabalhar, de ir nos campos e de continuar as pequenas atividades comerciais cotidianas.

Sentimo-nos impelidas a acompanhar espiritualmente e materialmente os cristãos da comunidade de Bissorã e das tabancas limítrofes, que seguimos desde o começo da presença das MdI neste território, há 37 anos.

Pensamos que era necessário comunicar com eles, por isso mantivemos contatos pelo telefone, para que não ficassem isolados e se sentissem abandonados. Pensamos que era preciso dar uma palavra de fé e esperança, por isso, em colaboração com o pároco, escrevemos uma carta circular de votos pascais, acompanhada de um pequeno sinal, uma cruz, para cada família da paróquia. Pensamos de solicitá-los a refletir sobre os acontecimentos, ao fim de conscientiza-los a respeito da situação e incentiva-los a colaborar com as autoridades sanitárias e

 

civis para a prevenção, mantendo um olhar de esperança e fé no futuro. Decidimos de propor a cinco líderes da comunidade, homens e mulheres, algumas perguntas, e com as respostas redigir uma peça teatral para favorecer um momento de sensibilização, com o apoio dos jovens e adolescentes. O resultado foi muito encorajante!

Para o Mês de Maio convidamos os paroquianos a rezar o terço nas próprias famílias, e difundimos a carta de Papa Francisco, acompanhada de um panflete dos mistérios do rosário em Crioulo. Utilizando o método “ver-julgar-agir” queríamos também organizar no futuro uma celebração comunitária depois do período da emergência. Sentimos a importância de celebrar junto a Vida, para não se deixar levar dos eventos, mas interpretá-los e vê-los juntos e com olhos de fé.

Ainda que culturalmente seja difícil para os guineenses acreditar em vírus e doenças causadas para contagio viral, podemos atestar que demonstram-se conscientes e engajados em colaborar, para se proteger e prevenir do contagio, e socorrer os mais pobres da comunidade e dos bairros, sem fazer distinção entre muçulmanos e cristãos.

Como Missionarias da Imaculadas temos já atividades na área da saúde (o apoio aos epiléticos, aos gêmeos e aos órfãos) e, tendo recebido donativos, conseguimos sustentar com gênero alimentar as famílias que se aproximam de nós, através de ir. Cinzia. Também a Caritas Paroquial, coordenada por ir. Cinzia e em colaboração com a Caritas Diocesana distribuiu gêneros alimentares para as famílias mais carentes.

A tradição cultural da Guiné-Bissau também foi atingida nas suas raízes por este vírus, porque aqui o povo costuma comer junto no mesmo prato, compartilhar o copo, e viver relações familiares muito próximas.  Agora isto não é possível pelas medidas de segurança e distanciamento social.

Como irá sair desta crise? Com certeza algo está e irá mudar. Será necessária uma transformação de mentalidade e do nosso jeito de se relacionar, esperamos com recaídas positivas. Queremos acreditar que o Senhor da Vida e do Universo continue acompanhando a humanidade e a Guiné-Bissau. A nós, como missionárias, cabe ir em busca cada dia do que Deus quer de nós e continuar a semear a sua Palavra.

Ir. Ornella e ir. Eliane, Comunidade Bissorà, Guinè Bissau

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