É Deus quem toma a iniciativa na vida de cada ser humano. Por isso, o nosso coração deve ser sempre terreno fértil para que, na semeadura, a semente germine e cresça. Assim, revivencio com alegria a minha vocação e celebro este Ano Jubilar dos 50 anos de vida religiosa missionária com o coração repleto de alegria e gratidão. Como religiosa consagrada eu me propus: a uma vida de testemunho e de entrega a Deus, à alegria de uma dedicação aos irmãos, à simplicidade, pobreza e obediência.
A vocação nasce na família
Os pais são os primeiros responsáveis em ajudar os filhos nas escolhas do caminho a seguir. Digo isso com liberdade e propriedade, por terem sido os meus pais a me ajudar na escolha da vocação.
Na infância e juventude sempre procurei acompanhar minha família, especialmente o meu pai em suas atividades sociais e religiosas na igreja: em mutirão ele limpava ou construía casas aos pobres, aplicava injeções em doentes, convidava, incentivava e animava pessoas a participarem da comunidade, da reza do terço durante o mês de maio, da novena da festa da padroeira, aconselhava casais em dificuldades e exercia tantas outras formas de evangelizar.
Na adolescência fui catequista das crianças da Primeira Eucaristia. Assim, tive a alegria de conhecer os padres do Pontifício Instituto das Missões ao Exterior, Pime, missionários zelosos, dedicados ao povo. Nada os impedia de visitar famílias distantes, espalhadas pelas comunidades rurais da paróquia, de rezar Missa para o povo, atender confissões, acompanhar a vida espiritual da comunidade. Tudo me encantava nessas pessoas chamadas por Deus.
Os desafios da Vocação
Ao sentir no coração o chamado forte de Deus, busquei discernimento para a minha vocação, através da oração e dos conselhos amigos que pudessem me ajudar nessa busca inquieta. Através dos padres do Pime conheci as irmãs Missionárias da Imaculada – Pime. Durante a caminhada muitas dúvidas e incertezas surgiam, sem que eu me desse conta de que elas faziam parte do discernimento do chamado à Vida Religiosa Consagrada: “A loucura que Deus inventou para confundir o mundo”. Conheci congregações religiosas, mas logo me identifiquei com o espírito e o carisma missionário desta nova Congregação. Antes mesmo de completar 18 anos, encorajada pela “paixão missionária e do anúncio do Evangelho a todos”, iniciei o caminho de preparação à consagração religiosa missionária.
Sem demora, partir…
“Missão é partir”, insistia dom Hélder Câmara. Na itinerância missionária, muitas foram as experiências vividas, muitos serviços realizados desde a primeira missão nos Estados Unidos até a de São Paulo, hoje. Trabalhei em vários lugares: em Bragança Paulista, no interior de São Paulo; em Maués, diocese de Parintins; na Guiné-Bissau, país africano onde permaneci por vinte e dois anos; depois na Bahia; no município paulista de Registro e, finalmente, em São Paulo. Em todos esses lugares maravilhosos tive a graça de sentir o quanto Deus está presente no povo humilde, sofredor. Mas um povo maravilhoso! Atuei no serviço pastoral das Comunidades: Catequese, Pastoral da Escuta, da Juventude. Envolvi-me na promoção humana da mulher. Com as “Mulheres Grandes” – as matriarcas da Guiné-Bissau – aprendi a “escutar”, a “ouvir”. Agradeço a todas elas.
Tudo por amor
Hoje celebro com gratidão este Ano Jubilar. Mesmo com dificuldades, vivi essa linda e gratificante experiência. “Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa” (Documento de Aparecida,18). É gratificante saber que nossa vocação se realiza no meio do povo, com o povo e para o povo. Um marco que me enche de júbilo é recordar Madre Igilda – nossa fundadora. Em uma de suas cartas me escreveu: “Tudo o que você faz como irmã Missionária, faça com amor e carinho a fim de que Jesus seja conhecido e amado por todos”. A presença de Maria sempre esteve comigo. Fortaleceu minha vocação e me encoraja a perseverar no anúncio do Reino. Com ela e com todos os que comigo caminharam celebro com júbilo meus cinquenta anos de Vida entregue a Deus e aos irmãos.
Ir. Rosa Maria de Oliveira (São Paulo – Brasil Sul)