justiça restaurativa

Todos os dias, através dos noticiários, acompanhamos o cenário mundial atual, onde contemplamos a situação de intensificação de vários conflitos nas relações pessoais e sociais, que tendem a contribuir para manter uma “cultura de violência” que envolve todas as esferas da sociedade.

Pondo em debate quais seriam os meios alternativos a serem usados na busca e construção da superação da indiferença, do individualismo e da superficialidade que permeiam de certo modo, muitas relações humanas, a Justiça Restaurativa surge como um instrumento de busca de caminhos para a construção de uma educação para a paz e bem viver, visando uma aproximação das partes envolvidas.

Com a ajuda e intervenção da própria sociedade, através dos Círculos de Construção de Paz, a justiça restaurativa, busca restaurar um dano causado por um determinado conflito, contribuindo assim, para que o ofensor, a vítima e a comunidade possam dialogar e buscar possibilidades na construção de uma “nova cultura social”, onde os interesses e conflitos passam a serem tratados de forma mais humana e democrática, abrindo novas opções para a vivência concreta de uma “cultura da paz”.

O Papa Francisco, em sua Carta Encíclica Fratelli Tutti, veio nos recordar que em muitas partes do mundo, faz faltam percursos de paz que levem a cicatrizar as feridas causadas por tantos conflitos pessoais e comunitários que tendem afastam pessoas, famílias e grupos humanos. De fato, tanto na sociedade quanto na igreja, “há necessidade de descobrir a «arquitetura» da paz […], mas há também um «artesanato» da paz que nos envolve a todos (cf.231), capaz de transformar-nos em artesãos de paz” (cf. 225). Esta dialética, faz de nós, mulheres e homens que são capazes não somente de contribuir na construção de uma sociedade onde a justiça social e a promoção da paz, mas que principalmente possibilite colocar a vida no centro de toda e qualquer discussão.

Minha experiência de partilha de vida e fé, marcada pelos anos que vivi junto ao povo guineense e que atualmente vivo em terras brasileiras, foram e continuam a ser marcadas por um mosaico que lembram encontros entre povos e culturas, línguas, costumes e religião. Através destes encontros e também desencontros, continuo a aprender que estas experiências podem e devem, sempre que possível e necessário, nos convidar à conversão pessoal.

Somos impelidos pelo “dom da fé” mas também por uma consciência política e social, presente na Doutrina Social da Igreja, que pode e deve transformar esta cultura da indiferença que afastam as pessoas entre si, e que por vezes, impactam nossas relações acentuando tensões e conflitos em nossas comunidades de fé, nas famílias, no trabalho, na sociedade etc., em uma cultura da proximidade, que nos leve a acolhida das pessoas e suas realidades com empatia; Embora este processo, tenha seus desafios, vejo que as praticas restaurativas, podem nos ajudar no processo de reconciliação e aproximação, mas isto sempre exigirá de nós, o pressuposto da humildade e do diálogo, que levam a novas e profundas descobertas de nós mesmos e dos outros.

Nossas sociedades, vivem momentos difíceis por causa dos muitos muros construídos: do racismo, das desigualdades econômicas, da dificuldade de conviver com opiniões diferentes, de desrespeito e ataque às instituições (CF2021, n.42). Todos nós somos afetados por estas diferentes crises da sociedade, não estamos ilesas de enfrentar, em nosso cotidiano, discussões familiares, situações de preconceitos e de desrespeitos, o que nos desafia a tomar posições muitas vezes complexas. Ligada a tudo isto, a pandemia COVID 19, embora nos tenha nos despertados para a solidariedade e a partilha como valores universais, nos colocou frente a frente com a finitude humana, revelando também nossas fragilidades e vulnerabilidades.

Creio que um olhar resiliente voltado para muitos dos nossos os conflitos, podem criar oportunidades para promover mudanças, abrir o ensejo para a busca fecunda da paz e do dialogo verdadeiro entre nós e com outros povos e culturas. Arquitetar a paz, é um processo que requer de nós a disponibilidade de colocar-se a caminho, curar as feridas dos erros, das incompreensões, das controvérsias, como nos lembra Papa Francisco, isto no impulsiona e reconhecer-se como aquele e aquela não possui respostas prontas, mas que pode encontrá-las no encontro com o Outro que é a Imagem de Deus.

Ir. Fabiana Regina dos Santos – Província Brasil Sul

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